Viciado em Cinema e TV (A Sequela) por Nuno Cargaleiro

Julho 21 2007

 

 

Reverend Clement Hedges: Beware the moon!


As curtas metragens de "Wallace e Gromit" são já um clássico e na animação "stop motion", daí que a dado momento a questão de transpor das personagens para o grande ecrã seria um situação a analisar. Um dos testes para confirmar se um filme deste tipo teria "estofo" para sobreviver ao mercado do cinema foi "A Fuga das Galinhas", que como bem se recordam foi um sucesso quer no circuito das salas de cinema, quer na distribuição de "home video" (seja em aluguer ou venda directa).

Em contraste com o estilo de animação predominante actualmente (com origem na Disney, Pixar, ou Anime), "Wallace e Gromit" transmite vida a pequena figuras de plasticina que são religiosamente moldadas de modo a interpretarem personagens com alma e personalidades próprias, condimentadas com um humor muito "sui generis"!... Como já devem ter reparado, eu sou um fã das curtas de "Wallace e Gromit" e devo dizer que o filme não me desiludiu!...

Optando por criar um argumento específico para o filme, Steve Box e Nick Park preferiram desenvolver as personagens, em vez de seguir a solução fácil de repetir as mesmas piadas (das curtas metragens) vezes sem conta. Essa decisão permitiu-nos ter sempre um toque de expectativa com estas figuras que já conhecemos algum tempo.

Assim, Wallace e Gromit surgem no ínicio como "caçadores" piedosos, mas eficientes, de coelhos, que numa povoação que vive quase exclusivamente para a agricultura são considerados o equivalente a pestes indesejadas. Os seus métodos são no mínimo curiosos, mas até há altura cumpriram sempre os seus ojectivos, sem que para isso tenham sido magoados quaisquer um dos coelhos aprisionados (figuras essas que são do mais hilariante da película!...). Com uma grande carteira de cliente, tudo corria bem até ao momento que surge "um Coelho-Homem", que sendo um membro do sobrenatural não pode ser derrotado por métodos "normais"... Com a pressão da cidade, que vê aproximar-se a data do seu Concurso de Vegetais Gigantes, Wallace e Gromit são encarregues de parar a praga indesejada, antes que Victor Quartermaine (um caçador de fortunas arrogante e presunçoso, na voz de Ralph Fiennes) tome o caso e decida efectivamente caçar e matar a criatura. No meio ainda temos um clima amoroso entre Wallace e Lady Campanula Tottington (voz de Helena Bonham Carter), e demonstrações de porque é que o cão é o melhor amigo do homem!...

"Wallace & Gromit e a Maldição do Coelho-Homem" ganha maior parte do seu humor com a paródia assumida de filmes de terror do género, com referência claras a filmes de lobisomens, a filmes de terror dos estúdios Hammer, ao King Kong original, e até ao "Mighty Joe Young". No meio ficam questões como: Cenoura ou Queijo? Porque é que existe uma loja de artigos sobrenaturais na Igreja? O que é uma Were-Cow? Quando é que os coelhitos voltam com o Wallace e Gromit? Onde é que eu posso comprar um BV6000?...

De humor delirante, desde o início até o final, "Wallace e Gromit" é animação de qualidade para qualquer idade, e para qualquer paladar cinematográfico. As únicas falhas que posso apontar é que apesar de ter-se tentado desenvolver as personagens, fazendo-as sair um pouco da imagem em que já as conheciamos, não conseguiu-se cumprir o objectivo. Assim, ficou somente a promessa, e apesar disso não prejudicar de todo o produto final também não o favorece. Por isso, infelizmente não posso dar mais classificação.

Óptimo filme para um dia de chuva, ou um dia de sol, o importante é estar disponível para o bom humor!...

Bom
3 estrelas

 

publicado por Nuno Cargaleiro às 13:03

Julho 11 2007

 

 

"And lo, the beast looked upon the face of beauty. And it stayed its hand from killing. And from that day, it was as one dead."


Existem pelo menos três certezas com este filme: Peter Jackson ao ter liberdade de realização consegue fazer um filme sem cair nos clichés que poderiam ser habituais num remake deste género, Naomi Watts é uma actriz que está definitivamente para ficar na história do cinema (tendo uma interpretação em que comunica mesmo quando não existem diálogos), e os efeitos especiais de hoje em dia podem fortalecer uma produção cinematográfica sem serem o centro da mesma.

King Kong poderá não ser um blockbuster no verdadeiro sentido da palavra, e daí é perfeitamente compreensível que não atinja o sucesso dos filmes de "Senhor dos Aneis". Essa situação deve-se à aposta em desenvolver emotivamente a relação Ann e Kong, e também devido a não um Vilão "comum", pois se virmos bem as coisas, os vilões são a sociedade actual, os bicharocos no mato, e o homem que na sua ganância e arrogância condena "as minorias" e aqueles que não entende e que nem pretende entender...

A presença de Adrien Brody como interesse amoroso da personagem de Naomi Watts serve exclusivamente para personificar o indíviduo que nunca parará até "salvar" a sua amada, de modo a que ela não permaneça sozinha no final desta tragédia, e para retirar qualquer conotação sexual à história de Kong.

No fundo, este filme fala sobre um assunto que ainda hoje é bastante actual: os desadaptados, aqueles que são sós, e que quer seja na cidade ou na selva não são comprendidos... Ann Darrow (Naomi Watts) e King Kong são dois exemplos disso mesmo, que após uma primeira impressão algo atribulada, consegue estabelecer uma relação de afinidade/amizade que lhes desperta o instinto de protecção mutua, mesmo que isso coloque em risco a sua própria integridade física. Toda a tecnologia utilizada serve para criar o ambiente a esta história, de modo a que esta possa fluir de um modo mais credível (como exemplo, as expressões da face de Kong são prova disso), mas centrando-se sempre nas personagens em vez do meio físico que as rodeia.

Verdade seja dita, todos já sabemos perfeitamente o final do filme, e com a consciência disso, Jackson utiliza passagens no filme para aumentar a intensidade da tragédia, e fazer-nos temê-la, apesar de sabermos ser inevitável: um exemplo disso passa na conversa entre Jimmy (Jamie Bell) e Hayes (Evan Parke) em referindo-se a um suposto livro que Jimmy está a ler (Jimmy: "This isn't an adventure story. Is it, Mr. Hayes?" /Hayes: "No, Jimmy. It's not.").

Nessa tragédia, traduz-se a beleza do filme... numa forma de nos incomodar sobre as tragédias provocadas pela nossa sociedade, que seriam tão fáceis de entender se não fossemos tão seguros das nossas certezas...

Excelente

5 Estrelas

publicado por Nuno Cargaleiro às 21:13

Julho 01 2007

 

 

 

 

 

publicado por Nuno Cargaleiro às 23:24

Junho 25 2007

 

 

Cada vez que vejo um novo filme de Ang Lee, convenço-me que este será um dos realizadores que irei sempre apreciar durante a minha vida. Dotado de uma versatilidade que lhe permite incidir em vários "estilos" de filmes, Ang Lee consegue fascinar-nos com a credibilidade que consegue apresentar no argumentos e na direccção de actores. Até mesmo no mal amado "Hulk", Ang Lee é grandemente responsável pelos aspectos positivos do filme, donde se destacam, por exemplo, os movimentos "humanizado" da figura do gigante verde, coreografados e interpretados pelo próprio Ang Lee, de modo a conseguir apresentar a qualidade que desejava.

 

Neste filme, Ang Lee consegue representar em imagem um fabuloso conto de E. Annie Prouxl, que lhe fez ganhar o Prémio Pullitzer, de um modo honesto e verosímel, nunca caindo na tentação de apresentar figuras esteriotipadas ou no "choradinho iminente". Ao contrário do que muitos realizadores poderiam fazer, Ang Lee dá atenção, na medida do possível, a todas as suas personagens, e a aspectos como a paisagem (desde aos campos que representam a pobreza de Ennis e da sua família, até à paisagem rica e "farta" de Brokeback Mountain que representa "o paraíso de liberdade" onde o "wisky corre nos rios") . Aliás, é a paisagem/ambiente físico que acaba por ser o catalisador de muitos dos acontecimentos. Destaque para a maravilhosa fotografia!...

 

Um dos principais aspectos na decisões de Ang Lee é a preocupação de apresentar personagens reais, e contextos em que nós possamos acreditar. Assim, tudo é apresentada de uma forma simples e honesta, onde pequenos pormenores trabalham para que esqueçamos que estamos a ver uma obra de ficção. Foi a querer representar isto que eu saí da sala de cinema a conversar com os meus amigos sobre as mamas das actrizes... Isto é!... O corpo é apresentado sem ser gratuitamente e sempre dentro de um contexto. Por exemplo, quando a personagem de Michelle Williams discute com o seu marido, em que ambos preparavam-se para ter relações sexuais, e vira-lhe costas, fruto do resultado amargo da discussão, ela mostra as mamas naturalmente, como se a câmara não estivesse lá... Noutro filme de Hollywood o mais provável era a actriz ter o cobertor bem aconchegado para não mostrar nada!... Ou por exemplo, quando Heath Ledger se despe na primeira vez, a sua personagem fica de "cócoras" enquanto se lava. Para além disso, tive curiosidade de ler o argumento (como acontece em alguns filmes) e reparei que muitas cenas que o argumento tinha decido "sugerir", o filme decidiu "assumir", sendo o clássico exemplo, a cena em que "Jack" e "Ennis" descobrem a atracção que têm um pelo outro. Depois desta cena, deixa de existir lugar para constrangimentos (para quem eventualmente os pudesse ter!...), e tudo que venha apartir segue no seguimento das personagens.

 

Esta decisão de tentar ser o mais realista possível pode levar a muita gente a acusar este filme de ser pouco corajoso, e por vezes entediante... Quanto a essas opiniões, apesar as respeite, só tenho a indicar que o contexto da história tem um tempo e um espaço definido, logo temos de ter em conta "a personalidade cultural" das figuras que vemos... Não esquecer que a posição socio-cultural no ocidente sobre a temática da homossexualidade tem mudado muito desde os últimos 40 anos!... Sobre o facto de ser entediante, acho que este filme é como a personalidade de Ennis: contido, mas que fala pelos seus silêncios...

 

Felizmente, os silêncios que permanecem durante o filme não significam a inexistência de uma banda sonora poderosa. Fruto da colaboração de Gustavo Santaolalla (que também participou no filme "Os Diário de Che Guevara"), não é de admirar que esteja nomeado para o Óscar de Melhor Banda Sonora Original. É impressionante que através de alguns acordes de guitarra, que correspondem ao contexto da área onde decorre a acção, Santaolalla consegue transmitir de uma maneira simples um som poderoso, o qual terá bastante responsabilidade no envolvimento do espectador.

 

Quanto às interpretações, é de elogiar a dedicação com que os actores, em especial os protagonistas, dedicam-se e entregam-se à sua personagem. Para além disso, é curioso ver Anna Faris (a rainha do "Scary Movie") numa participação fugaz, mas interessante, revelando o interessante desta num projecto independente, que no início ninguém dava cavaco!... Apesar de existir um grande espaçamento desde a sua última participação num filme a sério ("Lost in Translation", onde pode apresentar, a pedido de Sofia Coppola, a sua imitação da Cameron Diaz), Faris consegue cumprir o pretendido, e sinceramente, parece ter um pequeno toque de midas nos filmes independentes que participa (apesar de não o conseguir para fazer evoluir a sua carreira)...

 

Neste história de boy meets boy, encontramos Jake Gyllenhaal no papel de "Jack Twist" um comboy amante de rodeos, que por falta de dinheiro concorre, durante o verão de 1963, para uma posição de guardador de ovelhas. Aí conhece o introspectivo "Ennis del Mar", encarnado por Heath Ledger, que busca acumular algum dinheiro antes de casar com a sua noiva Alma, interpretada por Michelle Williams (curiosamente a sua mulher na vida real). Durante este Verão, onde ambos depende um do outro para "sobreviver", laços de amizade são criados e ultrapassados, criando uma ligação de "atracção-amor" que vai segui-los durante os próximos vinte anos. Enquanto Jack representa o lado selvagem e inconsequente, não temendo assumir a sua relação com Ennis, este último representa o silêncio, o medo e a auto-homofobia que a sociadade lhe "instalou", reprimindo os seus sentimentos publicamente, mas vivendo interiormente a frustação de não conseguir ir além do "que pensa ser capaz".

 

O duo Jack-Heath consegue transmitir a química para o ecrân, em grande parte devido à entrega dos seus actores, merecendo ambos a nomeação para o Óscar de interpretação. É de realçar que Heath Ledger é unico actor que conseguiu apresentar uma imagem de velhice com maior credibilidade sem recorrer demasiado à caracterização, através do posiocionamento do maxilar e do facto do próprio actor ter engordado um pouco, fugindo à imagem que apresenta quando é suposto ter cerca de vinte anos.

 

Quanto a Michelle Williams, foge completamente à imagem que apresentou na série "Dawson's Creek", vivendo uma mulher que procura manter o seu casamento perante a sombra de uma ameaça, com a qual sabe não poder competir. Eficiente na sua participação, é caricato que a actriz serviu-se do facto de ser mulher de um dos protagonistas, obrigando-os a beijarem-se diante dela (por detrás da câmara), durante a filmagem da cena em que Alma descobre os dois amantes, de forma a compreender melhor e transmitir o que a personagem estaria a sentir naquele momento.

 

Anne Hathaway é curiosamente a "mais fraquinha do grupo". Essa sensação não parte somente da sua interpretação (refira-se que esperava um melhor desempenho), já que infelizmente para ela, a sua personagem não tem um grande desenvolvimento durante a história, sendo a personagem que mais fala por "enigmas"... A seu mérito fica o facto de ter sido escolhida no casting sem que Ang Lee soubesse quem ela era e que seria uma actriz conhecida... A "menina" pelos vistos anda a fugir de "papeis de menina", tentando ir além dos "Diários de uma Pincesa" e da "Ela Encantada".

 

Possivelmente se não tivesse sido o vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza ninguém nos "States" teria dado "cavaco" a este filme, já que há mais de cinco anos que estaria em fase de projecto... Até Gus Van Sant andou atrás deste projecto, sem conseguir financiamento!...

 

Excelente

5 Estrelas

publicado por Nuno Cargaleiro às 12:44

Junho 11 2007

 

 

Warren Schmidt (Jack Nicholson): Relatively soon, I will die. Maybe in 20 years, maybe tomorrow, it doesn't matter. Once I am dead and everyone who knew me dies too, it will be as though I never existed. What difference has my life made to anyone. None that I can think of. None at all.

O Alexander Payne tem este talento de tornar as histórias mais simples em histórias cheias de detalhes, complexas e ricas em emoções. Não são as típicas histórias do cinema americano. Este filme, tal como "Sideways" mostra que um happy ending não quer dizer necessariamente um final feliz em todas as dimensões, mas sim a mostra de uma evolução positiva da personagem ou das personagens que demonstram o conceito e problema do filme.

Schmidt é um "velho", e não pensem que digo isto de forma negativa. Ele desde o início do filme que vê os sinais que o tempo passa e ele fica cada vez mais velho e inadaptado: reforma-se, a sua mulher morre (levando-o a começar a calcular qual será o seu tempo médio esperado de vida, considerando que não voltará a casar-se novamente), e a sua filha (que ele cada vez mais se apercebe que não "conhece" realmente) vai casar-se com o maior idiota que (segundo Schmidt) que existe à face da terra... Para além destes sinais mais obvios, existem as pequenas histórias dentro do filme, como os momentos que ele vive na sua viagem aos locais onde "viveu" no passado, que ajudam a reforçar esta situação.

"About Schmidt" para mim, é falar sobre um ser que se vê, do nada, como um ser inadaptado na realidade que vive, e que encara com bastante surpresa para essa situação. Schmidt é um homem à deriva, desesperadamente procurando na sua história uma âncora que sirva de razão de viver...

Um bom filme para ser ver numa noite tranquila, depois de um bom jantar entre amigos, para realmente reflectirmos que a nossa vida nunca será assim, e que aquilo fazemos hoje é aquilo que vamos herdar no futuro...

 

Muito Bom

4 Estrelas

publicado por Nuno Cargaleiro às 17:56

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