Fazer cinema em Portugal, é mais do que um sacrifico, é um mérito... Num país onde o reconhecimento (quer a partir do público, da crítica, e de organismos oficiais de patrocínios ) é algo que depende de diversos factores (como por exemplo, ter por detrás o apoio de um dos canais de televisão que inunda a programação com clips do filme)... "Coisa Ruim" não tem muito de que se queixar, o que é bom, pois é um bom filme!...
Tendo o mérito de ser o primeiro filme português a iniciar um Fantasporto, "Coisa Ruim" toma como mecanismos aquilo que muitos deveriam reconhecer: em vez de "copiarmos" estilos e histórias que provêm de outros países, sobretudo do cinema comercial americano, porque não recriar os conceitos adaptando-os à nossa realidade social e cultural... "Coisa Ruim" pega assim nas superstições, nos receios e medos do interior, e cria uma história onde o novo choca com o velho, o passado choca com o presente, e a lenda choca com a realidade...
A realização é bastante eficaz, e devo dizer que várias foram as vezes que me "surpreendeu"... Não posso dizer que fiquei assustado durante o filme, mas fiquei muitas vezes sobressaltado com o clima de suspense e de acção iminente!...
Das interpretações, devo destacar três nomes bastante especiais (se bem que todo o elenco está maravilhosamente bem): Maria d'Aires, Sara Carinhas (no papel da filha do casal Adriano Luz e Manuela Couto, que apesar de adolescente já é mãe solteira) e José Afonso Pimentel. As interpretações destes primam pela intensidade que transmitem e pelo envolvimento que criam com o espectador.
Filme desenvolvimento de forma inteligente, e que ao contrário do que se fala não é tão parecido "A Vila" quanto isso... "Coisa Ruim" é a prova que com uma boa história, um bom elenco, uma boa equipa de figurantes, e uma boa equipa técnica (no qual aqui se destaca a fotografia e a realização), pode-se fazer um bom filme português, capaz de incomodar-nos...
Contudo desenganem-se... "Coisa Ruim" não é um filme de terror... É um filme sobre personagens, vizinhos, aldeias envelhecidas e despovoadas, famílias, preconceitos, e fantasmas interiores... Parafraseando o realizador ""O Diabo? Talvez ande por lá mas não é uma força maligna, que cospe fogo pela noite. É talvez, apenas o medo que temos do amor."
Bom
3 estrelas