"V for Vendetta" é de entre todos os filmes blockbuster dos últimos tempos, o mais político-social e com mais noções de história recente, sem querer pegar muito ao choradinho, mas numa perspectiva comercial e de entreternimento, sem nunca esquecer e desvalorizar a responsabilidade social que é falar sobre assuntos como liberdade, democracia, e as atrocidades cometidas em ditaduras em nome de "um bem maior"...
Grande parte do mérito é obviamente de Alan Moore, que criou e nos apresentou esta personagem "sempre sorridente": um terrorista de nome correspondente a uma única letra, que traz a si o dever de despertar aquela sociedade ostracizada, e abalar a segurança de um governo que usa o medo e a opressão para máscaras de ordem e segurança. Porém, o filme não o desvirtua, acrescentando até uma cena final (diferente da conclusão apresentada na novela gráfica) onde toda a metáfora de máscaras exteriores e interiores é apresentada, conseguindo uma sensibilidade bastante inspiradora.
Se olharmos bem, "V for Vendetta" é um filme que vai para além do evidente... As máscaras que são apresentadas demonstram isso mesmo... Este filme não aponta o governo ditaturial como sendo o único responsável, mas dirige-se também para o cidadão comum, confrontado-o com situações que na sua vida normal não são questionáveis... confrontado com realidades que o espectador comum procura manter como inreflectidas e com os dogmas impostos numa sociedade ocidental maioritáriamente católica e individualista, contextos como: a homossexualidade, responsabilidade social (em vez do habitual costume "desenrascanso individual"), activismo (em vez do normal "deixa andar"), transexualidade (se vocês sinceramente não perceberam onde está a referência discreta a um possível personagem transexual, não sou eu que vou explicar aqui directamente... pesquisem a novela gráfica, e se precisarem perguntem-me nos comentários)...
Todo o argumento é um desenrolar de situações que nos surprendem de forma agradável, coerente e com tendências a tocar o dedos nas feridas da nossa sociedade!... Aliás, quem for mais velho por favor responda a isto: não ficaram com a sensação que estavam a ver o Portugal antes do 25 de Abril?... Numa altura onde as gerações mais novas esquecem-se (pois acabam por não ter nada a recordar), onde as mais antigas procuram esconder (não esquecer o caso do desejo de não comemorar o 25 de Abril demonstrado pelo Governo Madeirense de Alberto João Jardim), e onde todos tendem a não relembrar as revoltas daquela altura, pois na liberdade vive também a responsabilidade... É perfeitamente possível incluir neste filme imagens da revolta de abril, sem que destoasse do resto... Daí a importância de um filme destes existir nos dias de hoje... Talvez isso também explique porque é que em termos de bilheteiras não tenha facturado tanto quanto outros!...
Relativamente à interpretações, Hugo Weaving, Stephen Rea e Natalie Portman estão bastante bem... Sendo a interpretação de Weaving das melhores da sua vida... transmitindo toda a complexidade emocional de um personagem através da sua voz e postura corporal... Se alguém ainda tinha dúvidas sobre a sua qualidade como actor, estas são dissipadas logo na primeira cena de V no filme, onde demonstra-se claramente o constante confonto entre a consciência e a senilidade desta personagem.
Apesar de todo um bom trabalho técnico do filme, é no conceito do filme e no desenrolar do seu argumento que este ganha toda a força, sendo um optimo exemplo do tipo de "blockbusters" que precisamos....
"Remember, remember, the fifth of November, The gunpowder treason and plot. I know of no reason why the gunpowder treason should ever be forgot."
Muito Bom
4 estrelas