Eddie Brock : Spidey , love the new outfit . Give me some of that web action .
Falar sobre este volume da saga Spiderman é estranho. Avaliar a vários níveis este filme torna-se algo ingrato, pois a nível geral considero que seja o melhor dos três, contudo falando de modo mais específico, será em alguns aspectos mais fraco do que os primeiros. Para que seja mais facilmente entendido a minha opinião em relação a este filme, convém clarificar algumas ideias, e aviso aos leitores, irei falar frontalmente e receio de desvendar o enredo deste filme, logo, esperem por possíveis spoilers ". Eu sou fã dos comics do homem-aranha . Apesar de não ser um "freak" que decora diálogos e vive intensamente as decisões de enredo como se a sua vida dependesse disso, sou alguém que tem o mínimo de conhecimento do historial desta publicação. Logo, é natural que tivesse algumas ideias ou expectativas do resultado deste projecto!... Para além disso, tenho consciência que um filme desta envergadura é produzido para atingir aqueles que são fãs absolutos, como aqueles que vão ao cinema e querem simplesmente duas horas e meia de puro entretenimento!... Sam Raimi , desde o início, sempre nos provou ter sido uma escolher acertada para conduzir este projecto, porém, existe algo que me começou a afligir desde o segundo filme: estará Sam Raimi a ficar velho demais, e dessintonizado com a geração mais jovem?...
Em "Homem-Aranha" tivemos a apresentação da personagem, a sua criação, e a relação de paixoneta "juvenil" com Mary Jane, assim como a relação de amizade com Harry Osborn. No papel de contra-parte do aracnídeo tivemos uma versão "metalizada" do Duende Verde, um dos vilões mais significativos na história deste universo. No segundo volume, tivemos o doutor Octupous ("que história era aquela do elenco chamá-lo sempre de Doc Ock"), numa recordação dos clássicos, que face às motivações do público que cria toda a expectativa à volta deste filme, foi uma decisão pouco ajustada!... Mesmo assim, conseguiu cativar mais atenção, e evoluir o enredo para o envolvimento de Mary Jane na vida do aranhiço, e a "queda" de Harry como "wannabe be Bad Guy"!... Do modo como o segundo filme acaba, ficamos com expectativas bastante altas para a sequela.
O terceiro capítulo desta saga inicia-se com um Peter Parker com o ego em alta, e uma Mary Jane em confronto com a evolução da sua carreira. Harry Osborn continua a ter o mesmo ar tacirtuno que mostrou nos filmes anteriores, e esperamos a primeira batalha logo nos primeiros momentos. Aliado a isto, existe um ladrão foragido, Flint Marko (Thomas Haden Church), em busca de dinheiro para os cuidados de saúde da filha (que "curiosamente" só surge uma única vez durante o filme); um fotógrafo corrente de Parker, Eddie Brock (Topher Grace), que não hesita a usar todos os mecanismos possíveis para ocupar uma posição de destaque no jornal de JJ Jameson, e no "coração" de Gwen Stacy (Bryce Dallas Howard), uma loirinha bonita e simpática, com uma tendência natural a meter-se em confusões "dignas" de intervenção de super-herois!...
Com o desenrolar, gera-se uma espécia de dois paralelos, Parker que tem uma namorada que ama, e um emprego que gosta, sendo reconhecido como bom profissional e como "super-heroi" da cidade, digno de admiração; e Brock, que vive uma relação com Gwen Stacy que só existe nos seus sonhos (já que a miúda não quer nada com ele), é desprezado a todos os níveis, tendo como consequência o seu despedimento e humilhação profissional. Só este conceito (aliado à história do fato negro e do surgimento de Venom) merecia o destaque de um único filme!!...
O filme peca pela falta de equilíbrio entre o início e conclusão. Assim, vamos analisar por partes:
-Sandman (Flint Marko), por exemplo, tem um grande destaque no ínicio, para se perder o rumo da personagem a meio, ficando Sandman colocado como um mero "ornamento" na luta final. Mais valia que tivesse uma história que encerrasse entretanto, mas onde não se sentisse a desorganização devido a acumulação de personagens. Porém, Thomas Haden Church consegue, na medida do possível manter a coerência da sua figura, procurando humanizá-lo para além do esteriotipado bandido com coração. Seria a personagem mais dispensável, mas será dos melhores desempenhos que encontramos. Na minha opinião, só foi incluido para "show off", demonstrando as capacidades tecnológicas de recriar um homem composto por areia. Nota de que a intenção não invalida o resultado positivo de algumas cenas, como o fabuloso primeiro levantar em que Marko se desfaz para voltar a recriar-se.
-Harry Osborn / Green Goblin II, é a personagem obrigatória, com James Franco a conferir uma boa interpretação à sua personagem. Nota-se que neste Duende, houve um cuidado na imagem devido às imensas críticas na altura do primeiro filme. Contudo, a sua "regeneração" final é demasiado fácil, e a roçar o cliché absoluto!... Seria preferível que fosse até ao final ambigua e conturbada, assim como o original nos comics.
-Gwen Stacy representa a imagem tipíca de heroínas simpáticas, bonitas, e de bom coração que por "peso da sua sina" acabam sempre no meio de confusões onde são salvas pelo seu cavaleiro andante!... Bryce Dallas cumpre bem o seu papel, criando empatia entre o espectador e a personagem. Ficamos a esperar sempre mais acerca da sua personagem, mesmo que não seja o destino "trágico" a que está destinada, mas é em vão!...
-Bruce Campbell volta a fazer um cameo, assim como Stan Lee, contribuindo num momento de humor, algo que Campbell já demonstrou a sua capacidade. Contudo, cada vez mais é estranho estas participações. Pode ser um gozo particular entre o realizador e o actor, ou pode ter mais água no bico do que parece: quando ele brinca com nome de Parker e chama-lo pecker, ele está mesmo a dizer pecker, ou berkhart?... Campbell pode ser um trunfo de Raimi, e existindo um quarto filme, entregue nas suas mãos, poderá já ter capacidade para integrar Campbell como um dos vilões de Homem-Aranha!... Qual? Vão à wikipedia, ou façam uma pesquisa neste blog, já que já falei disso!...
-O par Mary Jane e Peter Parker surgem durante este filme com uma interpretação superficial, quando de todos era o que mais requeria envolvimento e entrega. Kirsten Dunst ainda se safa bem, ficando a faltar na sua personagem o belo do cigarrinho na mão para corresponder à constante imagem de Mary Jane nos comics!... Por outro lado, ainda me consegue explicar o que o Tobey faz neste filme? Se no primeiro filme já achava que era um mau casting, neste ainda acho mais... Peter Parker é mais profundo do que ele consegue transmitir. Na cena em que discute com a tia sobre o destino de Sandman, a actriz que encarna a tia May consegue dar uma lição de interpretação a Tobey e demonstra-nos o quão superficial ele é!...
-Brock/Venom está surpreendemente bem composto por Topher Grace, que a dado momento conseguia mais a minha simpatia do que a personagem de Tobey. Quando se transforma finalmente em Venom é um puro espectáculo para os olhos. Na luta entre Homem-Aranha e Venom vemos as imagens que eu sempre quis ver desde o início, pois é este o Homem-Aranha que eu conheço. Nunca noutro filme do Homem-Aranha eu senti a sensação de estar a ver a banda-desenhada como neste. Contudo só durou meia-hora, e terminou abrutamente, quando a "companhia" de Raimi decidiu matar (eu avisei que tinha spoilers!) Venom (simbiote e Brock incluidos), inviabilizando qualquer possibilidade de regresso num quarto filme, com um maior destaque!... Apesar de Topher Grace conseguir bons resultados, considero que esta personagem deveria ter sido entregue a Thomas Haden Church, que para além de ser mais parecido à imagem original de Venom/Eddie Brock, tem mais experiência e consegue transmitir a imagem de cansaço, angústia, e desprezo que caracteriza Venom...
A filmografia e efeitos especiais deste filme são sem dúvidas os melhores da série, contribuindo num crescendo, onde o espectador é surpreendido constantemente pelas novas capacidades demonstradas. Porém, a falta de investimento profundo na história, resulta no desmascarar de uma superficialidade que desenquelibra o produto final!... Neste projecto existe várias possibilidades de reacções: o que conhece e gosta de filmes de acção e que sai satisfeito, o que gosta dos filmes anteriores e apesar de não ser fã vai ver e sai com a questão de que lixo acabou de ver, o fã que vai e adora cada momento (até porque não presta atenção aos diálogos), o fã (que como eu) vai e adora mais vê o filme "destruído" nos últimos 10 minutos, e os fãs que perdoam mais facilmente que reconhecem que é um bom filme, mas que pensam constantemente o que poderia ter sido...
Um filme a ver quando não aguentarem mais de ansiedade, ou então numa sala de cinema com um bom sistema de som!... Este filme nota-se que foi feito claramente para ser um filme espectáculo, consegue-o, mas começa-se a levantar a sombra da maldição de sequelas: tal como em Batman e Super-Homem, e X-Men, o terceiro film é o princípio do fim para novos desenvolvimentos. E com este, será que voltam com nova equipa?... Talvez seja melhor! Pois apesar deste ser bom, não me interpretem mal, a verdade é que poderia ser bastante melhor!...
Bom (e mais qualquer coisinha!...)
3 1/2 estrelas