Cada vez que vejo um novo filme de Ang Lee, convenço-me que este será um dos realizadores que irei sempre apreciar durante a minha vida. Dotado de uma versatilidade que lhe permite incidir em vários "estilos" de filmes, Ang Lee consegue fascinar-nos com a credibilidade que consegue apresentar no argumentos e na direccção de actores. Até mesmo no mal amado "Hulk", Ang Lee é grandemente responsável pelos aspectos positivos do filme, donde se destacam, por exemplo, os movimentos "humanizado" da figura do gigante verde, coreografados e interpretados pelo próprio Ang Lee, de modo a conseguir apresentar a qualidade que desejava.
Neste filme, Ang Lee consegue representar em imagem um fabuloso conto de E. Annie Prouxl, que lhe fez ganhar o Prémio Pullitzer, de um modo honesto e verosímel, nunca caindo na tentação de apresentar figuras esteriotipadas ou no "choradinho iminente". Ao contrário do que muitos realizadores poderiam fazer, Ang Lee dá atenção, na medida do possível, a todas as suas personagens, e a aspectos como a paisagem (desde aos campos que representam a pobreza de Ennis e da sua família, até à paisagem rica e "farta" de Brokeback Mountain que representa "o paraíso de liberdade" onde o "wisky corre nos rios") . Aliás, é a paisagem/ambiente físico que acaba por ser o catalisador de muitos dos acontecimentos. Destaque para a maravilhosa fotografia!...
Um dos principais aspectos na decisões de Ang Lee é a preocupação de apresentar personagens reais, e contextos em que nós possamos acreditar. Assim, tudo é apresentada de uma forma simples e honesta, onde pequenos pormenores trabalham para que esqueçamos que estamos a ver uma obra de ficção. Foi a querer representar isto que eu saí da sala de cinema a conversar com os meus amigos sobre as mamas das actrizes... Isto é!... O corpo é apresentado sem ser gratuitamente e sempre dentro de um contexto. Por exemplo, quando a personagem de Michelle Williams discute com o seu marido, em que ambos preparavam-se para ter relações sexuais, e vira-lhe costas, fruto do resultado amargo da discussão, ela mostra as mamas naturalmente, como se a câmara não estivesse lá... Noutro filme de Hollywood o mais provável era a actriz ter o cobertor bem aconchegado para não mostrar nada!... Ou por exemplo, quando Heath Ledger se despe na primeira vez, a sua personagem fica de "cócoras" enquanto se lava. Para além disso, tive curiosidade de ler o argumento (como acontece em alguns filmes) e reparei que muitas cenas que o argumento tinha decido "sugerir", o filme decidiu "assumir", sendo o clássico exemplo, a cena em que "Jack" e "Ennis" descobrem a atracção que têm um pelo outro. Depois desta cena, deixa de existir lugar para constrangimentos (para quem eventualmente os pudesse ter!...), e tudo que venha apartir segue no seguimento das personagens.
Esta decisão de tentar ser o mais realista possível pode levar a muita gente a acusar este filme de ser pouco corajoso, e por vezes entediante... Quanto a essas opiniões, apesar as respeite, só tenho a indicar que o contexto da história tem um tempo e um espaço definido, logo temos de ter em conta "a personalidade cultural" das figuras que vemos... Não esquecer que a posição socio-cultural no ocidente sobre a temática da homossexualidade tem mudado muito desde os últimos 40 anos!... Sobre o facto de ser entediante, acho que este filme é como a personalidade de Ennis: contido, mas que fala pelos seus silêncios...
Felizmente, os silêncios que permanecem durante o filme não significam a inexistência de uma banda sonora poderosa. Fruto da colaboração de Gustavo Santaolalla (que também participou no filme "Os Diário de Che Guevara"), não é de admirar que esteja nomeado para o Óscar de Melhor Banda Sonora Original. É impressionante que através de alguns acordes de guitarra, que correspondem ao contexto da área onde decorre a acção, Santaolalla consegue transmitir de uma maneira simples um som poderoso, o qual terá bastante responsabilidade no envolvimento do espectador.
Quanto às interpretações, é de elogiar a dedicação com que os actores, em especial os protagonistas, dedicam-se e entregam-se à sua personagem. Para além disso, é curioso ver Anna Faris (a rainha do "Scary Movie") numa participação fugaz, mas interessante, revelando o interessante desta num projecto independente, que no início ninguém dava cavaco!... Apesar de existir um grande espaçamento desde a sua última participação num filme a sério ("Lost in Translation", onde pode apresentar, a pedido de Sofia Coppola, a sua imitação da Cameron Diaz), Faris consegue cumprir o pretendido, e sinceramente, parece ter um pequeno toque de midas nos filmes independentes que participa (apesar de não o conseguir para fazer evoluir a sua carreira)...
Neste história de boy meets boy, encontramos Jake Gyllenhaal no papel de "Jack Twist" um comboy amante de rodeos, que por falta de dinheiro concorre, durante o verão de 1963, para uma posição de guardador de ovelhas. Aí conhece o introspectivo "Ennis del Mar", encarnado por Heath Ledger, que busca acumular algum dinheiro antes de casar com a sua noiva Alma, interpretada por Michelle Williams (curiosamente a sua mulher na vida real). Durante este Verão, onde ambos depende um do outro para "sobreviver", laços de amizade são criados e ultrapassados, criando uma ligação de "atracção-amor" que vai segui-los durante os próximos vinte anos. Enquanto Jack representa o lado selvagem e inconsequente, não temendo assumir a sua relação com Ennis, este último representa o silêncio, o medo e a auto-homofobia que a sociadade lhe "instalou", reprimindo os seus sentimentos publicamente, mas vivendo interiormente a frustação de não conseguir ir além do "que pensa ser capaz".
O duo Jack-Heath consegue transmitir a química para o ecrân, em grande parte devido à entrega dos seus actores, merecendo ambos a nomeação para o Óscar de interpretação. É de realçar que Heath Ledger é unico actor que conseguiu apresentar uma imagem de velhice com maior credibilidade sem recorrer demasiado à caracterização, através do posiocionamento do maxilar e do facto do próprio actor ter engordado um pouco, fugindo à imagem que apresenta quando é suposto ter cerca de vinte anos.
Quanto a Michelle Williams, foge completamente à imagem que apresentou na série "Dawson's Creek", vivendo uma mulher que procura manter o seu casamento perante a sombra de uma ameaça, com a qual sabe não poder competir. Eficiente na sua participação, é caricato que a actriz serviu-se do facto de ser mulher de um dos protagonistas, obrigando-os a beijarem-se diante dela (por detrás da câmara), durante a filmagem da cena em que Alma descobre os dois amantes, de forma a compreender melhor e transmitir o que a personagem estaria a sentir naquele momento.
Anne Hathaway é curiosamente a "mais fraquinha do grupo". Essa sensação não parte somente da sua interpretação (refira-se que esperava um melhor desempenho), já que infelizmente para ela, a sua personagem não tem um grande desenvolvimento durante a história, sendo a personagem que mais fala por "enigmas"... A seu mérito fica o facto de ter sido escolhida no casting sem que Ang Lee soubesse quem ela era e que seria uma actriz conhecida... A "menina" pelos vistos anda a fugir de "papeis de menina", tentando ir além dos "Diários de uma Pincesa" e da "Ela Encantada".
Possivelmente se não tivesse sido o vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza ninguém nos "States" teria dado "cavaco" a este filme, já que há mais de cinco anos que estaria em fase de projecto... Até Gus Van Sant andou atrás deste projecto, sem conseguir financiamento!...
Excelente
5 Estrelas