King Kong poderá não ser um blockbuster no verdadeiro sentido da palavra, e daí é perfeitamente compreensível que não atinja o sucesso dos filmes de "Senhor dos Aneis". Essa situação deve-se à aposta em desenvolver emotivamente a relação Ann e Kong, e também devido a não um Vilão "comum", pois se virmos bem as coisas, os vilões são a sociedade actual, os bicharocos no mato, e o homem que na sua ganância e arrogância condena "as minorias" e aqueles que não entende e que nem pretende entender...
A presença de Adrien Brody como interesse amoroso da personagem de Naomi Watts serve exclusivamente para personificar o indíviduo que nunca parará até "salvar" a sua amada, de modo a que ela não permaneça sozinha no final desta tragédia, e para retirar qualquer conotação sexual à história de Kong.
No fundo, este filme fala sobre um assunto que ainda hoje é bastante actual: os desadaptados, aqueles que são sós, e que quer seja na cidade ou na selva não são comprendidos... Ann Darrow (Naomi Watts) e King Kong são dois exemplos disso mesmo, que após uma primeira impressão algo atribulada, consegue estabelecer uma relação de afinidade/amizade que lhes desperta o instinto de protecção mutua, mesmo que isso coloque em risco a sua própria integridade física. Toda a tecnologia utilizada serve para criar o ambiente a esta história, de modo a que esta possa fluir de um modo mais credível (como exemplo, as expressões da face de Kong são prova disso), mas centrando-se sempre nas personagens em vez do meio físico que as rodeia.
Verdade seja dita, todos já sabemos perfeitamente o final do filme, e com a consciência disso, Jackson utiliza passagens no filme para aumentar a intensidade da tragédia, e fazer-nos temê-la, apesar de sabermos ser inevitável: um exemplo disso passa na conversa entre Jimmy (Jamie Bell) e Hayes (Evan Parke) em referindo-se a um suposto livro que Jimmy está a ler (Jimmy: "This isn't an adventure story. Is it, Mr. Hayes?" /Hayes: "No, Jimmy. It's not.").
Nessa tragédia, traduz-se a beleza do filme... numa forma de nos incomodar sobre as tragédias provocadas pela nossa sociedade, que seriam tão fáceis de entender se não fossemos tão seguros das nossas certezas...
Excelente
5 Estrelas