Viciado em Cinema e TV (A Sequela) por Nuno Cargaleiro

Novembro 10 2007

 

 

Nito!...

 

Falar sobre "A Outra Margem" é um prazer (algo) inesperado. No trailer já se sentia o cuidado, e o prenúncio de algo de bom que se aproximava. Contudo, é no visionamento que se percebe o quão bem o rumo do cinema português pode tomar, caso o espectador dê simplesmente oportunidade dele se manifestar.

 

Dotado de uma simplicidade genuina, sem cair no esteriótipo e na superficialidade fácil, este filme apresenta-nos uma história curiosa sobre dor, perda e descoberta da paixão de viver através dos olhos de figuras que parecem tão estranhas para os olhares comuns, cruzando com personagens que são representações positivas do homem e da mulher rural do dia à dia.

 

Quando um homem que deixou o passado, e a família para trás, vê-se numa situação de dor e perda do amor da sua vida, acaba por ser convidado a recuperar num ambiente que não esperava cruzar: a sua terra natal. Por entre abalos e recusas, pouco a pouco regressa às origens, no contacto daqueles que deixou (e "magoou"), e através de uma figura que nunca conheceu, o seu sobrinho, um jovem com sindrome de Down, que apesar das suas "limitações" não deixa de demonstrar a maior força de vida, e os sonhos mais fortes e determinados.

 

Regressar às origens para curar as dores do presente não é conceito novo. Porém, "A Outra Margem" vale pela representação fiel de cada uma das personagens. Entre cenários e personagens "à la Almodóvar" cruzam-se representações do interior rural português, onde as pessoas parecem mais duras, mas não menos sentimentais e tolerantes do que os restantes.

 

Os diálogos são inteligentes, e os silêncios têm o tempo certo, mostrando-nos numa "janela", que é o grande ecrã, um relato do quotidiano feito "conto de fadas".

 

Nesta história a fada madrinha é "Vanessa Blue", uma imagem feminina de glamour e alegria que conduz o pinóquio que é Vasco, o jovem com sindrome de Down, no caminho da luz e do sonho, ao mesmo tempo que este também representa o cavaleiro andante de "bicicleta branca" que salva Ricardo (a verdeira face de Vanessa Blue) do seu sono de dor e mágoa.

 

Com este projecto, Luis Filipe Rocha arrisca-se de cada vez mais ser considerado um optimo director de actores. Do núcleo forte não há nenhum dedo a apontar, somente a pena que reside no espectador sobre a pequena tragédia que cada um traz dentro de si. Quando todos perdem alguma coisa (ou alguém) nesta vida, resta olhar em frente e deixar as cinzas do que nos consome serem levadas pelo vento.

 

Um dos melhores filmes dos últimos tempos, onde conceitos como previsibilidade e preconceito são desmacarados em privilégio de familia, amor, amizade, família e emoção.

 

Muito Bom

4 Estrelas

publicado por Nuno Cargaleiro às 01:43
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