A terceira edição já saiu, e cada vez queremos trazer-te um trabalho mais completo, com energia, cor e diversão, mas mantendo o profissionalismo que esperas de nós.
Uma revista gratuita, de fãs de cinema para os fãs como nós.
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Se me permitem, numa primeira análise, considero preferível o titulo original deste filme (“Lust, Caution”) para representar o conceito do enredo, do que a adaptação portuguesa “Sedução, Conspiração”. Embora seja disso que o argumento trata, o impacto final reduz-se à relação de amor ódio provocada pelos protagonistas Tony Leung e Wei Tang, esta última numa estreia absolutamente fascinante.
Com “Sedução, Conspiração”, Ang Lee volta a remeter-nos para a sua visão romântica, onde a tragédia, amor e desejo andam de mãos dadas, num desenrolar com implicações imprevisíveis, e aspirando atingir a emoção do espectador.
O argumento começa durante a Segunda Guerra Mundial, num período onde a China sofria a ocupação crescente do Japão. A população migrava para localidades onde a invasão não tinha chegado, e o sentimento patriótico era dominante. É nesse momento em que encontramos Wong Chia Chi, uma jovem tímida, mas atenta, oscilante entre a sua posição actual e a mágoa e abandono do pai, emigrante no Reino Unido.
Num contacto universitário com um grupo de teatro, as suas capacidades de interpretação são aproveitadas, revelando nela uma capacidade de incorporação de personagem capaz de movimentar plateias. Através de uma peça nacionalista, o grupo de amigos é movido por um desejo ingénuo de ter um papel mais importante, imaginando um plano amador de infiltração e de homicídio de um “colaboracionista” dos japoneses, Mr. Yee. De todos os interveniente, é Wong Chia Chi que se torna capaz de suportar e encabeçar uma personagem fictícia, atingido a luxúria da vítima, que começa a observá-la com outros olhos.
Será nesta evolução de personagem que Ang Lee se concentra. Através da evolução entre as figuras de Wong Chia Chi (a figura real) e Mrs. Mak (a “espia” infiltrada) que todo o enredo avança, tomando essa personagem como massa motora de toda a acção. Todos os restantes, inclusive Mr. Yee, são secundários, sendo somente desenvolvidos o suficiente para complementar a história de Wong Chia Chi.
Mais do que uma personagem, Wong Chia Chi representa uma figura colectiva, metáfora de uma China activista, porém ligada às suas raízes morais e sentido moderno e romântico. Apesar de se tratar uma adaptação, nota-se um cunho pessoal do realizador, deixando perceber a dedicação e orgulho que este projecto lhe trouxe. Vencedor do Leão de Ouro de Veneza deste último ano, “Sedução, Conspiração” cuida com bastante atenção cada plano como uma representação física e emocional dum período conturbado da história daquele país, através de um conto entre o “desejo” entre duas personagens de extractos opostos, quer psicologicamente, socialmente, ou politicamente.
Nesse aspecto, terá sido um risco depositar toda esta importância numa actriz desconhecida, Weit Tang. Contudo, a aposta sagrando-se vencedora, embora o mérito também se deva ao contraponto provocado pelos acompanhantes: Lee-Hom Wang (como Kuang Yu Min, o seu “mentor” político e paixão platónica), Tony Leung (como Mr. Yee, o seu objecto e objectivo final), e Joan Chen (como sua antagonista feminina, numa interpretação deslumbrante que só não suplanta a da protagonista).
Contundo, a maior fragilidade deste projecto passa pela atenção esforçada do realizador. Dedicado a proporcionar uma fidelidade ao produto e temática original, Ang Lee tende a perder-se nos períodos iniciais. Embora a temática relacional seja das suas capacidades, enredos orientados para questões políticas e espionagem não serão dos seus pontos fortes. “Sedução, Conspiração” só começa a ganhar força a metade, e tendo em consideração que se trata de um total de duas horas e meia, Ang Lee arrisca-se perante os olhares mais imediatos.
Para os palatos mais pacientes, “Sedução, Conspiração” será um dos prazeres deste ano e uma confirmação de Ang Lee como realizador, numa intenção claramente positiva. Contudo, aqueles que vêem uma sessão como um escape para a rotina do dia à dia, será um tempo que causará um mau impacto, num desconforto que pode oscilar entre o entediante e arrependimento.
Bom
4 estrelas
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