Belén Rueda é conhecida na televisão espanhola pelas suas participações em “7 Vidas”, “Los Serranos” e “Perioditas”, já adaptados pela televisão portuguesa. Internacionalmente, destacou-se em 2004 como Julia em “Mar Adentro”, filme espanhol sensação desse ano. Em “O Orfanato” é Laura, a figura central de um enredo que mistura sobrenatural com obsessão, num argumento simples e inteligente que motivou a sua escolha como representante espanhol para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Não mereceu a honra da nomeação, mas ninguém lhe retira os 30 prémios já atribuídos!
Laura regressa ao lugar onde passou grande parte da sua infância, até ser adoptada. Num casarão remoto num ambiente campestre do norte de Espanha, vive o espírito das lembranças daquele lugar e deseja retribuir em vida, criando um espaço para crianças com necessidades especiais. Com ela, traz a bagagem emocional, o marido, e o pequeno filho (Simón), que padece de uma doença misteriosa que desconhece, mas que não deixa de se abalar e ser a figura própria de um miúdo de tenra idade.
Pouco a pouco, a imaginação de Simón apresenta traços cada vez mais inquietantes, na medida que começa a descrever uma figura “invisível” que tem ramificações com o passado de Laura e daquele local. A culminação acontecerá no dia de apresentação do projecto do novo “Orfanato”, em que Simón desaparece, e Laura começa a perceber um comportamento estranho presente na casa que habita.
A realização é de Juan Antonio Bayona, argumento de Sergio G. Sánchez, mas a produção é de Guillermo del Toro. Curiosamente, nota-se a identidade de Guillermo del Toro neste projecto, que apesar de não apresentar o fascínio visual a que nos habituou, retrata um ambiente onde o sobrenatural e a realidade percorrem em paralelo por entre o enredo. Todo o argumento permite diversas perspectivas, desde as mais crentes às mais apreciadoras de realismo, sem que com isso perca coerência e impacto para o espectador.
Como a cena inicial do filme, “Orfanato” é um filme sobre fé e amor, onde a figura de Belén Rueda é o cerne e motivadora de avanço na história. Será através da sua luta em encontrar o seu filho que viveremos toda a mágoa e obsessão que este representa. Nesta perspectiva, este projecto demonstra-nos o que um filme de terror deve ser: simples, sem obrigatoriedade de “gore”, inesperado, contudo com uma narrativa humana e realista. Só assim é que o impacto nos pode assustar. E embora possa não ser uma força que nos faça saltar da cadeira, a amargura que surgirá inesperadamente levará o espectador a um horror mais identificável ao seu dia à dia, e consequentemente mais presente e assustador.
Num filme de actores e de bons diálogos, “Orfanato” não fica nada a dever a outros projectos de valor de “nuestros hermanos”, sendo um representante digno da qualidade cinematográfica que se faz para além da fronteira. Posto isto, quase dá para perguntar se Espanha não nos quer invadir! Nem que seja para conseguirmos fazer algo idêntico!
Muito Bom
4 Estrelas