Lord Voldemort: You're a foul Harry Potter, and you will lose everything.
Discutir um filme da saga "Harry Potter" ignorando o livro em que o projecto se baseia será descuidar de um dos pormenores mais importantes do sucesso e impacto do mesmo. Neste "Harry Potter e a Ordem na Fénix", este princípio aplica-se em grande parte por duas razões: porque a narrativa é diferente, e porque a personagem principal diverge no seu conceito dos filmes anteriores...
Esta mudança é natural, devido à introdução do arqui-inimigo Lord Voldemort no passado filme, e graças ao crescimento natural das personagens que compõem a história. Contudo tem-se a mesma dose de estranheza a lidar com este Harry Potter do que é apresentado no livro: um figura mais plástica, bruta, tendicioso de que o mundo está contra ele, chata, e aborrecido... O que acabava por dar maior graça no livro era a partilha de protagonismo que se espelhava por entre Ron, Hermione, e os restantes membros da trupe de alunos... Isso para além do fantasma iminente de Lord Voldemort!
Este filme é um pau de dois bicos: aqueles que forem fãs da série, com toda a certeza vão adorar este capítulo, acentar tendas para comprar o livro que está quase a sair, fazer preces para que Emma Watson permaneça como Hermione, e esperar religiosamente pelo próximo. Aqueles que não deliram com Harry Potter podem achar o filme interessante, mas não muito mais do que isso.
Como já referi, a isto se deve ao próprio enredo, reduzido ao essencial, embora permaneça numa "campanha" de 2 horas e 20 minutos. Tal como no livro onde se baseia, será o início que custa mais a suportar.
O argumento terá sido condensado, despojando alguns desenvolvimentos iniciais que nos permitiam ter uma maior consciencialização de que o mundo "Harry Potter" tinha-se alterado com a chegada de Voldemort. Assim, ficamos com uma série de referências a manchetes de jornais e conversas paralelas, avançando rapidamente para Howguarts, para a introdução da figura mais inabalável desta película: Dolores Umbridge, na mão da fabulosa Imelda Staunton, roubando claramente a cena ao próprio Harry Potter. Pérfida, falsa moralista, controladora, e narcisista, a sua representação corresponde exactamente, senão ainda melhor, à imagem que temos nas páginas escritas por J.K. Rowling, correspondendo a um dos pontos altos do filme.
Quanto ao resto, não há muito a dizer: há um mistério (que no filme nem se percebe muito o que é), suspeitas constantes de um ataque iminente, um governo auto-centrado que se recusa a admitir a realidade, mais umas criaturas que são apresentadas para vender o peixe (e merchandising), uns quantos efeitos especiais, uma "rebelião" que se organiza para encher metade do filme, e finalmente um confronto final que enche os olhos, sente-se rápida demais, e cria expectativas para o próximo volume desta saga...
Como já disse, ver este "Harry Potter e a Ordem da Fénix" cria o mesmo sentimento agri-doce que provoca ler o livro. Contudo, o filme não aproveita a série de pequenos pormenores com que a obra literária se defende, correndo o risco de se ver, perante cada espectador, como uma figura diante de um abismo: alguns vão adorar, outros suportam (mas esquecem-se rapidamente), e outros vão simplesmente pensar no dinheiro que gastaram com o bilhete de cinema. Pessoalmente, situo-me na categoria do meio, com o leve arrependimento de não ter escolhido antes o filme que estava na sala ao lado... (é verdade!...)
Mas para aqueles que pensem que analisar este filme desta forma significa que estou a movimentar a minha opinião sobre a saga, enganam-se. Admito que este pareceu-me um dos mais "inconcistentes", mas a realidade é que tenho mais expectativas sobre o próximo do que alguma vez tive sobre este.
Suficiente
2 estrelas