"A Rapariga Morta" é uma experiência interessante sobre o impacto que um acontecimento pode ter na vida de outros, determinando por vezes, situações que geram mudança, e apresentam um melhor rumo para esta personagem. Como se a natureza vivesse num equilíbrio, onde a desgraça de um pode perspectivar, indirectamente, a felicidade de outros, ou pelo menos uma consciência diferente do mundo que os rodeia, compensando o mundo da perda de mais um elemento.
Dotado de um elenco feminino fabuloso, é sobretudo a imagem de Rose Byrne, Piper Laurie, Marcia Gay Harden, Kerry Washington, e Mary Beth Hurt (que faz transparecer a sua personagem numa nudez incomodativa) que sobressaem do núcleo que oscila entre o morno e o apaixonante. Especial menção para Brittany Murphy, que consegue destoar da imagem que tem passado nos seus últimos filmes, modificando inclusive a voz para um tom mais grave, a fim de se entregar a uma personagem que deve ter sido das maiores prendas que recebeu nos últimos tempos!...
Ao contrário de muitas películas de múltiplos enredos, "A Rapariga Morta" apresenta as suas histórias separadamente, como se fossem um conjunto de curtas metragens centradas num único tema: a morte por homicídio (brutal) de uma rapariga. A despersonalização do cadáver acaba por causar impacto na vida de mulheres que aperentemente não se sentiriam ligadas por esta figura quando esta estaria viva: uma adulta "estranha" feita adolescente dominada pelo espírito castrador da sua mãe, a "eterna" irmã de uma criança desaparecida, a esposa queixosa que confronta-se com a felicidade do seu casamento, e uma mãe que se questiona o quanto conhecia a sua filha!...
Apesar desta separação de enredos permitir uma maior concentração por parte do espectador, também revela os maiores defeitos do argumento. Verificamos momentos, como a história inicial, a cargo de Toni Collette, que se tornam desinteressantes, em contraste com os segmentos da "irmã" e da "esposa", onde sentimos que muita história ficou por contar. Talvez se a organização fosse outra, apresentando os diversos núcleos de um modo cruzado, esta sensação fosse atenuada. Contudo, esta situação não retira valor ao filme, simplesmente não atribui a qualidade que seria desejada.
Uma história de mulheres, onde a imagem de "uma rapariga morta" confronta-as com a sua mortalidade e resignação quanto ao seu quotidiano, como se um benefício fosse, num acaso do destino que tira de uma mão para apresentar rumos a outros que ainda têm oportunidade em terem oportunidades...
Bom
3 Estrelas