Nola Rice: I don't think this is a good idea. You shouldn't have followed me here.
Christopher Wilton: Do you feel guilty?
Nola Rice: Do you?
Se vos fosse dado a escolher, entre ser bom na vida ou ter sorte na vida, o que preferiam? Optariam pela "ilusão" de que aquilo que se obtem é a custo e mérito próprio? Ou preferiam aceita que existem situações que ocorrem de uma simples dualidade entre a sorte e o azar? Se assim fosse, estariam preparados para viver as consequências dessa mesma sorte?... Estas são algumas das questões que ocorrem durante este filme, no qual o argumento brilhantemente escrito por Woody Allen merecia ter recebido o Óscar de Melhor Argumento Original, não fosse o caso do autor ser estupidamente "persona non grata" nos EUA.
A história só irá mudar de "rumo" quando "Chris" e Nola conhecerem-se. Sendo a "sua futura cunhada", Nola apresenta-se como uma figura semelhante a Chris, ou pelo menos, é isso que ele vê, e é isso que ele sente falta, e pelo qual acaba por sentir-se cada vez mais atraído!... É apartir desta relação amorosa que o rumo irá mudar, sem nunca ser incoerente, tornando-se num "thriller" sobre obsessão e desejo, onde a sorte e o azar competem entre si para "dar o próximo passo". O ritmo da narrativa é fluido, natural, e com a fabulosa habilidade de surpreender-nos, numa forma que em muito faz lembrar Alfred Hitchcock, embora Woody Allen seja sempre fiel ao seu estilo pessoal, não copiando de outros realizadores e géneros mas somente "bebendo" das suas influências!...
É espantoso como os EUA viraram costas a um dos seus melhores realizadores (Woody Allen), fazendo com o mesmo procurasse financiamento no Reino Unido. Allen já afirmou numa entrevista que apartir do momento que tentou financiadores noutro país conseguiu-os com a maior das facilidades. Por outro lado, isto permitiu representar uma Londres rica e cheia de pormenores, e associar ao projecto a imagem de classe alta londrina, que em vários aspectos é diferente da nova iorquina, a cidade original na primeira versão do guião!... Isso permitiu incluir um mundo com maior riqueza de costumes e "cultura", que permitiu desenvolver o conceito de contraste de classes sociais.
Quanto às interpretações, é de valorizar os três protagonistas: Jonathan Rhys Meyers, Scarlett Johansson e Emily Mortimer. Rys Meyers desprega-se completamente de outros papeis passados (como o caso de "Velvet Goldmine") com um forte imagem de ambiguidade sexual (feminino vs masculino) e usa a sua imagem para apresentar uma personagem com uma ambiguidade emocional muito forte (frio vs quente, alienado vs caloroso), "vítima" da sua própria sorte. O seu desempenho é um dos motores do filme, sendo determinante no sucesso do resultado final!... Johansson, por outro lado, é perfeitamente "a menina dos olhos do realizador", sendo ela o "elemento catalisador" de toda a acção. Encantadora e com uma maior maturidade na sua interpretação, consegue dar-nos uma perfeita ideia de que o facto dela chamar a atenção a muita gente é mais do que uma "moda", mas sim consequência de mérito próprio, e de uma entrega às personagens que interpreta. Scarlett incendia o ecrã quando surge, sendo ela a motivadora de uma das cenas mais arrepiantes do filme. Finalmente, Emily Mortimer é o elemento mais consistente e espantoso do filme. Não há cena em que a sua "Chloe" não transmita simpatia, empatia, perspicácia e a inocência "de quem vive numa frequência diferente". Esta combinação confere a Mortimer uma das personagens mais complexas (apesar da amparente superficialidade) e melhor compostas de todo o filme.
Filme poderoso, com uma narrativa viciante, subtil, coerente, fluída, e com interpretações que merecem toda a nossa apreciação. É um dos filmes do ano, e se justiça lhe fosse feita, teria sido pelo menos um dos nomeados para o Óscar de Melhor Filme.
5 Estrelas