Viciado em Cinema e TV (A Sequela) por Nuno Cargaleiro

Maio 10 2007

 

Tobias, the Mayor: New York is where everyone comes to get fucked. (...) New York is where everyone comes to be forgiven.

 

Falar de "Shortbus" sem falar no impacto inicial que nos provoca, é descorar um dos pormenores que fazem este filme ser tão frontal e honesto. Fruto de um intercâmbio e trabalho conjunto entre o realizador e os actores (e quebre-se aqui o possível mito que são não actores, pois confirmam-se, são actores, não conhecidos, e muitos cameos de figuras a fazer delas próprias), este filme apresenta-nos algumas histórias de personagens disfuncionais em Nova Iorque, onde o seu ponto comum passa pela necessidade de equilíbrio na sua vida, e busca da mesma nos vários cantos da sua vida, surgindo o local Shortbus como um símbolo desse "campo de batalha", onde cada um é livre de estar, experimentar, e exprimir-se pessoalmente, socialmente e sexualmente. Nesse sentido, "Shortbus" assume as várias dimensões das suas personagens, apresentando-os em cenas de sexo explícito, onde a ideia do pornográfico surge de imediato, mas que rapidamente de dilui para um entendimento, por parte do espectador, que aquilo que vê são momentos que cada um de nós pode viver na sua intimidade, sendo por isso natural, e onde o contraste entre as figuras tipo do filme, apesar da sua excentricidade, reproduzem anseios, dúvidas e desejos que são comuns a todo o ser humano.

 

Nos primeiro momentos, "Shortbus" choca o mais desprevenido, apresentando as personagens nos seus momentos mais pessoais: uma cena de sexo entre um casal, masturbação aliada a auto-felácio, e dominação sado-masoquista. Numa passagem onde as imagens multiplicam-se, intervelando entre cada uma das situações, o realizador e argumentista John Cameron Mitchell coloca-nos logo à prova. Para conseguirmos seguir o interior delas, temos de que olhar estas pessoas sem preconceitos, e assim, quem ficar na sala de cinema poderá assistir ao extrondoso espectáculo de "fogo de artifício" que revela ser este filme.

 

O mais interessante deste filme não reside nas histórias que apresenta, que se cruzam, influenciando-se muitas das vezes. Essas poderiam ser outros enredos completamente diferentes. Contudo, o esquema de evolução apresentado para o desenvolvimento da trama, e a associação entre percursos tão diferentes faz-nos considerar que no conceito principal, "Shortbus" fala-nos de amor, solidão, incapacidade de se entregar ou comunicar, disponibilizar em acreditar, nem que seja em si mesmo. A execentricidade deste enredo rapidamente se ultrapassa quando o pano cai, e revela que todos procuramos novas experiências, algo de novo, algo que signifique algo, uma solução (que nem que por um momento, daí a costante associação ao orgasmo) onde tudo faça mais sentido, e onde os nosso demónios interiores sejam ultrapassados com "orgulho"... Se pensarmos um pouco acerca disso, todos nós podemos identificarmo-nos com isso...

 

O ser humanos, como ser social, vive essa angústia dia à dia. Como que se fosse uma lâmpada em constante iminência de entrar em curto-circuito, vivemos cada vez mais na emoção do momento sem nos reconhecermos, e aí, a vida atravessa-nos sem que percebamos o quão à deriva se está.

 

"Shortbus" fez-me rir, emocionar e pensar sobre vários aspectos do quotadiano que tomamos por adquirido e correcto. Como se fossemos uma "personificação" da Alice no País das Maravilhas, todos tendemos em querer olhar para o outro lado do espelho, mas pouco conseguem alcançar nessa viagem a paz da auto-aceitação... Pois como diz numa das letras, duma banda sonora cuidada, "e é no fim que percebemos, que os nossos demónios interiores são os nossos melhores amigos"!

 

Muito Bom

4 Estrelas

publicado por Nuno Cargaleiro às 00:39
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